PALAVRADOR
Eu sou
A poesia transfigurada
Que vale nada
Que não tem odor
Eu sou
A palavra inexistente
Que fere gente
Que geme de dor
Eu sou
A encruzilhada noturna
Que guarda ossos em urna
Que vinga o amor
Eu sou
A letra sem nome
Que é faminta sem fome
Que chora feito desbravador.
CICLO VELADO
Não deixarei rastro,
nem resto de mim.
Vou embora pra lugar nenhum.
Antes da aurora,
estarei na terra do fim
coberto de flores que não dizem nada.
Receberei as visitas
de porta fechada,
longe da falsidade
daqueles que esqueceram de mim.
Nunca mas terei o desprazer,
da presença envergonhada.
Quem é você?
que ri da minha desgraça,
que sapateia em cima da última morada.
Veja a decomposição
d’alma vestida de agonia,
morre o homem,
nasce a poesia.
CIRCUNSTÂNCIA
Tenho fome
Talvez não de comida
Talvez não de palavra
Talvez não de sexo
Talvez não de você,
ou quem sabe
Tenho fome de tudo isso,
e muito mais.
PLURAL DO LEBLON
Essas meninas que seduzem o olhar,
são do Leblon,
fazem coisas que Lúcifer não inventou.
Querem aquilo que o desejo
não pode dar
e em suas cabeças,
povoa a discordância verbal.
Tribo descivilizada rompe as barreiras
da inconseqüência selvagem.
PRECISO DE NOTÍCIAS SUAS
Estou longe do meu sorriso,
distante das minhas vidas,
choro, por não falar minha língua
penalizo-me pela falta do meu berço.
Nada é real aqui,
A não ser quando recebo
notícias suas.
O medo fulminante de nunca
mais lhe ver escurece meus dias
perpetua minha tristeza,
pois está em você
o meu passado, presente em mim.
Pátria minha,
dela restaram-me as lembranças:
de um verde amazônico
de um amarelo igreja
de um azul tropical
de um branco oblíquo.
São fúteis os dias intermináveis,
tenho como companhia o imenso
muro de concreto desbotado
pelo lodo.
PRODUTO DERIVADO
Veio de cima do telhado;
Um miado
Um gemido
Um ruído
Ouviu-se pelo o rádio;
A dissonância do áudio
A música preferida
A hora esquecida
Assisti na televisão
O programa de diversão
O “jornal nacional”
O comercial
AS DORES DO MUNDO
Trago dentro de mim todas as dores
as dores do parto
as dores das prostitutas
as dores da falta de comida no prato
as dores do sangue derramado nas lutas
as dores de quem perdeu a mãe sem dizer adeus
as dores de quem não sabe perdoar
as dores de quem não acredita em Deus
as dores de quem não sabe amar
as dores dos diabetes
as dores nas filas intermináveis dos hospitais
as dores avassaladoras das pestes
as dores das doenças provocadas pelas mazelas sociais
as dores da infância perdida
as dores do amor profundo
as dores d’alma ferida
as dores do mundo.
AMOR DESCABIDO
Encontrei
nas palavras o caminho,
que me levara a você.
Assim, como as pérolas
trouxeram-me os versos de fevereiro,
para que eu esculpisse seu rosto
no tempo, no sol a pino escaldante.
Vinte oito de fevereiro,
concebido de um pecado qualquer
de um amor qualquer.
Foi assim que reconheci
você em mim
dentro de mim.
Persisto em dominar
o silêncio da sua ausência,
comprimo sua ausência
com sua presença nos versos
que criei pra você.
Pobre de mim,
não consigo me libertar
estou preso em seu universo.
É doloroso o amor?
Sim, é tremendamente doloroso
amar.
domingo, 30 de março de 2008
POESIA SEMPRE POESIA
Postado por Antônio Menrod às 11:36:00